Opinião | Carlos Alberto da Conceição Araújo
O tsunami das boxes Android em Angola
Nos últimos anos, as operadoras tradicionais de televisão em Angola têm enfrentado uma forte concorrência das boxes Android, conhecidas como 'boxes' em Angola, e serviços de streaming ilegais. Este tsunami das boxes tem abalado o mercado de televisão paga, levando as operadoras a perderem milhares de clientes insatisfeitos com o preço, qualidade e atendimento ao cliente. Enquanto isso, as boxes oferecem mais flexibilidade, opções de conteúdo e preços acessíveis, atraindo cada vez mais consumidores. Neste artigo, vamos analisar essa situação e discutir como as empresas podem se adaptar a essa nova realidade.
De acordo com o INACOM, entre o final de 2020 e o terceiro trimestre de 2021, as três principais operadoras de televisão - ZAP, DSTV e TV Cabo - perderam mais de 276 mil clientes (Expansão, 2022). Isso se deve, em grande parte, à concorrência das boxes, que oferecem mais flexibilidade e opções de conteúdo por preços mais acessíveis. Além disso, nos últimos seis meses de 2022, mais de 500 mil angolanos utilizaram sites de streaming ilegal (Jornal de Angola, 2022), o que tem sido um grande desafio para as empresas de televisão.
A meu ver, as operadoras tradicionais têm sido superadas pela concorrência, especialmente a DSTV, que oferece praticamente o mesmo serviço há 20 anos. Os pacotes são caros, o atendimento ao cliente é burocrático e lento, e a qualidade do serviço é afetada por fatores climáticos. Por outro lado, as boxes Android oferecem mais flexibilidade e opções de conteúdo, além de serem mais baratas, o que tem atraído muitos consumidores insatisfeitos com as operadoras tradicionais.
As boxes são basicamente mini computadores com o mesmo software de um telefone Android, conectados à televisão como um player multimedia. Todos os aplicativos disponíveis para um telefone Android também podem ser baixados na box, tornando-a uma ferramenta multimedia completa. Ao contrário das pacotes oferecidas pelas operadoras de televisão, as boxes não têm uso limitado e podem ser usadas para diversas atividades, como navegar a internet, jogar video game e acessar redes sociais.
No entanto, esses dispositivos também podem ser usados para acessar sites piratas de streaming, que usam um sistema complexo internacional de nuvens que torna quase impossível às autoridades competentes identificar, localizar e encerrar os servidores de streaming. A proliferação de sites piratas de streaming reflete a insatisfação dos consumidores com as operadoras tradicionais.
Em conclsuão, o tsunami das boxes em Angola não deve parar tão cedo, e as empresas de televisão precisam inovar para não serem afogadas pela concorrência. As operadoras tradicionais precisam buscar melhorias no atendimento ao cliente, na qualidade dos serviços e na oferta de conteúdo, além de trabalharem em conjunto com as autoridades para combater a pirataria e proteger seus negócios. Caso contrário, as operadoras tradicionais serão obrigadas a se adaptar ou correr o risco de desaparecer. É importante que as empresas estejam atentas às mudanças no mercado e às demandas dos consumidores, e busquem inovar e se diferenciar dos concorrentes, oferecendo serviços de qualidade e valor agregado. Além disso, é fundamental que o governo e as autoridades reguladoras atuem com maior rigor na fiscalização do mercado de streaming ilegal, combatendo a pirataria e protegendo os direitos autorais. Dessa forma, será possível garantir um ambiente de concorrência justo e equilibrado para todos os players do mercado de televisão em Angola.
Referências
Carlos Alberto da Conceição Araújo
Luanda, Angola
9 de Março de 2023
